• Home
  • Quem Somos
  • Contato
  • ENG
  • POR
  • ESP
  • Sala de Notícias
    • Arte&Sexualidade
  • Biblioteca
    • Publicações SPW
    • Anúncios mensais
    • Multimídia
    • Newsletters
    • Recomendamos
      • Publicações e Artigos
      • Links
  • Análises Estratégicas
  • Pesquisa & Política
  • Atividades SPW

Destaque, Publicações e Artigos

Quando a abstinência é um pecado contra a vida

14 jan 2020


Imagem: Poster produzido pelo Projeto Diversidade Sexual, Saúde e Direitos entre jovens.

por Richard Parker

Tendências & Debates

Na história da democracia brasileira, nunca houve tantos ataques aos direitos humanos em troca de um suposto viés ético e humanista. A política de abstinência sexual para prevenção da gravidez anunciada  —e já amplamente criticada pelos inúmeros equívocos— desconsidera os impactos desta política na resposta à Aids, uma das principais epidemias globais nos últimos 40 anos.

Deve-se dizer que a ministra Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos) até tem falado de Aids, mas de maneira equivocada. Há um ano, sinalizou para uma possível política de abstinência, quando declarou: “Se eu retardo um ano o início da relação sexual dessa menina, eu posso salvar a vida dela (…) porque nesse um ano ela pode ter se relacionado com alguém com HIV”. Essa afirmação alimenta o estigma que aflige as pessoas vivendo com HIV e ignora a evidência científica de que quem é soropositivo com carga viral indetectável não transmite o vírus —e para quem tem carga viral detectável existem diversos métodos altamente eficazes e disponíveis para a prevenção da transmissão.

Há duas semanas, no lançamento da nova política, cartazes diziam que camisinha não protege das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis). Na ocasião, a ministra anunciou que vai suspender a distribuição de preservativos no sistema que abriga adolescentes em situação de privação de liberdade. O anúncio desconsidera que essa distribuição é hoje muito precária e, por isso, esses jovens estão sujeitos a frequentes surtos de sífilis e gonorreia. A sociedade brasileira não pode continuar enfrentando restrições ao acesso à informação e aos insumos para a prevenção.

O governo Jair Bolsonaro desconhece os sofríveis resultados dos programas internacionais de promoção da abstinência. Desde os anos 2000, os Estados Unidos são os principais financiadores e promotores da abstinência sexual no mundo. Em 2003, no governo Bush, foi lançado o Plano de Emergência do Presidente para a Aids (Pepfar, sigla em inglês), programa bilionário que priorizou investimentos em tratamento e prevenção em países com alta prevalência para o HIV. Em 2006, um terço do total desses fundos foi canalizado para a promoção da abstinência sexual, com foco nos países africanos. Diversas pesquisas já demonstraram o fracasso desses programas, pois não houve redução no número de infecções por HIV entre jovens.

A política de abstinência também fracassou em solo norte-americano. Até 2017, movido por crenças religiosas e visões ideológicas, os EUA gastaram mais de US$ 2 bilhões em programas domésticos. A promoção da abstinência nem retardou a idade de iniciação sexual nem reduziu o chamado comportamento de risco. Sobretudo, não resultou em declínio da transmissão do HIV e de outras ISTs.

Ignorar essas evidências viola o direito à saúde da população brasileira. Por aqui, continuam elevadas a taxas de transmissão do HIV e registra-se um crescimento vertiginoso da sífilis, ambas enfermidades que afetam, sobretudo, as pessoas mais vulneráveis: pobres, negras e em situação de risco social.

A melhor resposta de prevenção ao HIV e às ISTs —e também à gravidez indesejada— é a educação sexual, orientada pelo respeito aos direitos humanos. Pregar a abstinência sexual como política de saúde pública, sem considerar os efeitos comprovadamente deletérios, é um pecado contra a vida.

Direitos sexuais são direitos humanos.

 

Richard Parker é diretor-presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abia), professor titular emérito da Universidade de Columbia (Nova York), editor-chefe da revista científica Global Public Health e autor de mais de 250 publicações científicas

Este artigo foi originalmente publicado na Folha de São Paulo no dia 14 de janeiro de 2020. 

Categoria: Destaque, Publicações e Artigos

Compartilhar

Tags

Aborto América Latina antigênero Argentina Brasil China Colômbia conservadorismo conservadorismo religioso Contracepção covid covid-19 Criminalização Defensores DH Direitos das Mulheres Direitos Humanos Direitos Intersex Direitos LGBTQ Direitos Reprodutivos Direitos Sexuais Discriminação economia política EUA Extremismo Religioso feminismo Feminismos gênero HIV/AIDS Identidade de Gênero Igualdade de Gênero ONU Orientação Sexual políticas antigênero Portugal religião Saúde Materna Sexualidade Trabalho Sexual Uganda Uruguai violência Violência Sexual África Ásia Índia

Sexuality Policy Watch

admin@sxpolitics.org
Rio de Janeiro | Brasil

Posts recentes

  • O direito ao aborto legal no Brasil 2023-2025: Ofensivas e Resistências
  • A resolução do CONANDA sobre aborto nos casos legais não é apenas justa, é urgente
  • Comentários feitos em um evento paralelo da CSW co-patrocinado pelos EUA sobre o ataque da ideologia de gênero às mulheres e à família
  • Ordem antigênero de Donald Trump (2025): tradução ao português
  • Ofensiva anti-trans e anti-DEI nos EUA sob Trump
FW2 Agência Digital