• Home
  • Quem Somos
  • Contato
  • ENG
  • POR
  • ESP
  • Sala de Notícias
    • Arte&Sexualidade
  • Biblioteca
    • Publicações SPW
    • Anúncios mensais
    • Multimídia
    • Newsletters
    • Recomendamos
      • Publicações e Artigos
      • Links
  • Análises Estratégicas
  • Pesquisa & Política
  • Atividades SPW

Recomendamos

30 ANOS DE AIDS: A HISTÓRIA SOCIAL DE UMA EPIDEMIA E DA RESPOSTA BRASILEIRA

24 jan 2012


30 ANOS DE AIDS: A HISTÓRIA SOCIAL DE UMA EPIDEMIA E DA RESPOSTA BRASILEIRA
por Richard Parker (ABIA/Columbia University) e Vera Paiva (NEPAIDS-USP)

Cada uma das três décadas da epidemia da Aids no Brasil está implicada em valores éticos e políticos articulados por profissionais de saúde, pesquisadores e pelo movimento social, nacional e internacionalmente.

nepaids_abia

:: Anos 1980. A Década do Sofrimento e da Solidariedade

Lembrar o sofrimento profundo de todas as pessoas vivendo com HIV e AIDS nas primeiras décadas é fundamental. Esse sofrimento permanece até hoje, onde impera a negação, onde a resposta social e programática enfraquece, é ineficaz ou inexiste.

A solidariedade surgiu nos anos 1980 como uma resposta humana dos amigos, familiares e amantes dos portadores de HIV/AIDS. Naquele contexto assustador – de uma doença desconhecida, sem tratamento e sem previsão de cura –, a construção da cidadania pós-ditadura militar também articulava a solidariedade de diversos movimentos sociais que contestavam a desigualdade, a violência racista e sexista, e a dominação de classe da época. Inspirados na teologia e na pedagogia da libertação, no movimento da reforma sanitária e nos nascentes movimentos sociais (homossexual, feminista e negro), articulavam-se noções como “somos todos positivos”, “somos parte da solução e não o problema”, ou queremos a “cura” e não a “morte civil”. Os princípios éticos eram a solidariedade, a valorização da diversidade, e a equidade que se organizavam politicamente na ideia mobilizadora da democracia como princípio, da cidadania e da saúde como um direito básico de cada cidadão.

Esses foram os anos em que o cuidado aos doentes e o controle do sangue estavam no centro da cena. Foi com grande demora (apenas no fim da década) que proibiu-se o “negócio do sangue” e conseguiu-se contrapor o princípio da saúde como direito à noção da promoção da saúde como negócio e mercadoria.

:: Anos 1990. Direitos Humanos, Justiça e Vulnerabilidade Social

Do sofrimento e da solidariedade, das demandas sociais locais e estaduais que exigem a criação de uma resposta governamental, resulta, finalmente, no Programa Nacional de AIDS. Ao mesmo tempo, a Constituinte de 1988 sustenta a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1990, com o objetivo de garantir a todos os brasileiros a prevenção e o tratamento, sem qualquer tipo de discriminação.

Começa-se a investir fortemente e ampliar a prevenção – centrada na promoção universal do uso do preservativo, nas políticas de redução de danos entre usuários de drogas injetáveis (com distribuição de seringas). Cresce a mobilização social e de profissionais de saúde no SUS a favor de uma política de acesso aos medicamentos eficazes, acirrada em 1996 com a comprovação da eficácia do chamado “Coquetel com Anti-Retrovirais”. O Brasil foi o primeiro país a contrariar o consenso das agências internacionais e do Banco Mundial guiados pela teoria do cost-effectiveness, furou o bloqueio dos economistas conservadores (neo-liberais) e tornou insustentável o argumento “não há nada a fazer para pessoas vivendo com AIDS em países mais pobres”. Deu no New York Times:

“Brazil is showing that no one who dies of AIDS dies of natural causes.”

O Brasil venceu a batalha moral pelo acesso ao tratamento em escala global. A Lei Sarney garante acesso ao tratamento e demonstra que vontade política e boa gestão são cost-effective. A integralidade, a universalidade, a participação e a inclusão social (princípios do SUS e das abordagens baseadas nos Direitos Humanos) evitaram gastos porque as pessoas não adoeceram através do acesso universal à prevenção adaptada a cada grupo, ao teste anti-IIV, aos medicamentos e aos serviços de saúde de qualidade e quase eliminou a transmissão do vírus de pais para filhos ou por produtos de sangue.
:: Anos 2000. No Brasil e no Mundo: promover direitos tem impacto sobre a epidemia

Nos anos 2000, o Brasil se fortalece como ator nos debates globais sobre o enfrentamento da epidemia. A resposta organizada no âmbito da saúde pública e do estado laico, com respeito à diversidade religiosa mas combatendo o estigma e a discriminação sexual, de gênero e racial, assim como o direito à saúde expresso no acesso universal ao preservativo e aos antirretrovirais, demonstram a eficácia dos princípios básicos do movimento da reforma sanitária e do SUS.

Por exemplo: consolida-se um banco de dados internacional sobre medicamentos mais baratos e a noção de que vulnerabilidade ao adoecimento é também um produto social e político, cuja resposta é a solidariedade e a proteção de direitos humanos. Nos debates sobre comércio, propriedade intelectual e o uso de licenciamento compulsório em benefício da saúde pública, o Brasil é respaldado por um movimento social forte que sustenta a ação da política externa do governo brasileiro.

Finalmente, a estabilização e o “controle da epidemia” são conquistas verdadeiras das últimas décadas. Mas podemos mais. Temos recursos para curvar os índices de casos de AIDS para baixo, se ampliarmos a qualidade da atenção e da prevenção, combinarmos o acesso ao teste e ao preservativo com novas intervenções (profilaxia pré e pós-exposição, por exemplo), sem considerar nenhuma delas a única opção “mágica”, biomédica ou psicossocial. A história mostra que a prevenção e o cuidado só são eficazes em contextos de garantia de direitos humanos, sem estigma e discriminação.

Essas conquistas serão sempre ameaçadas por forças políticas com outros valores. A persistência de uma boa análise social e humanista, uma resposta baseada em direitos e um movimento militante, disposto a lutar para proteger estas conquistas é o que garante continuidade e sustentabilidade ampliada da resposta no Brasil e no mundo.

>> Veja o documentário 30 Anos de AIDS: a 4ª Década Será a Última?

>> Veja o vídeo Dando a Volta por Cima – Uma História Coletiva, com imagens de campanhas nessas três décadas de AIDS.

Categoria: Recomendamos Tags: Direitos Humanos, HIV/AIDS

Compartilhar

Tags

Aborto América Latina antigênero Argentina Brasil China Colômbia conservadorismo conservadorismo religioso Contracepção covid covid-19 Criminalização Defensores DH Direitos das Mulheres Direitos Humanos Direitos Intersex Direitos LGBTQ Direitos Reprodutivos Direitos Sexuais Discriminação economia política EUA Extremismo Religioso feminismo Feminismos gênero HIV/AIDS Identidade de Gênero Igualdade de Gênero ONU Orientação Sexual políticas antigênero Portugal religião Saúde Materna Sexualidade Trabalho Sexual Uganda Uruguai violência Violência Sexual África Ásia Índia

Sexuality Policy Watch

admin@sxpolitics.org
Rio de Janeiro | Brasil

Posts recentes

  • O direito ao aborto legal no Brasil 2023-2025: Ofensivas e Resistências
  • A resolução do CONANDA sobre aborto nos casos legais não é apenas justa, é urgente
  • Comentários feitos em um evento paralelo da CSW co-patrocinado pelos EUA sobre o ataque da ideologia de gênero às mulheres e à família
  • Ordem antigênero de Donald Trump (2025): tradução ao português
  • Ofensiva anti-trans e anti-DEI nos EUA sob Trump
FW2 Agência Digital