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A política do carnaval

Apesar dos 400 dias de JMB, o carnaval demonstrou o poder do riso e escárnio das festas populares. A campeã do carnaval de 2020 do Rio de Janeiro foi a Viradouro que, segundo presentes no desfile, foi a que mais empolgou com o samba-enredo “Viradouro de alma lavada”. A escola contou a história das “Ganhadeiras de Itapuã”, mulheres negras baianas que trabalhavam lavando roupa na Lagoa do Abaeté, vendendo comida ou carregando água para se sustentar e comprar a própria alforria e de outras mulheres. Em suas fantasias e na letra do samba, as ganhadeiras também tinham relação com Oxum, orixá das águas e dona do ouro. Frente a uma história oficial que reitera a posição caridosa da Princesa Isabel, a história das ganhadeiras ressalta o poder das alianças comunitárias entre as mulheres negras. (Leia mais no Portal Catarinas)

A Mangueira, vencedora em 2019, trouxe o samba a “Verdade vos fará livre”, em que fala sobre a violência e repressão policial no Brasil. O desfile estreava Jesus de rosto negro, sangue índio e corpo de mulher, como canta a música – através dos carros e alas, jesus era retratado com esses rostos. O carro com um grande Jesus jovem, negro e favelado crucificado com os dizeres “bandido morto” despertou controvérsias entre os setores religiosos conservadores aliados a JMB, que acusaram a escola de ser marxista.

Em São Paulo, a Águia de Ouro venceu a disputa com o samba “O poder do saber – Se saber é poder… Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, que contou a história do conhecimento e seus resultados bons e ruins. A escola homenageou o educador Paulo Freire, um dos grandes alvos de ataques da administração atual, assim como fez referência à música hino de resistência à ditadura de Geraldo Vandré.

Ainda no Rio de Janeiro, a Mocidade homenageou a cantora Elza Soares, cantando a sua trajetória de sucessos e dificuldades, desde a sua origem favelada, as opressões e violências que sofreu como mulher preta, mas também os seus feitos de alcance internacional e em defesa das mulheres e população LGBT.

O carnaval de rua, por sua vez, investiu em tirar sarro das declarações e políticas decadentes do governo. Desfilaram entre os blocos as empregadas que iam à Disney quando o dólar estava baixo – em alusão à fala do Ministro da Economia Paulo Guedes -, a crise da água no Rio de Janeiro, o terraplanismo e sobrou também para o filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, e a sua candidatura à embaixador nos EUA, que teve como argumento a sua experiência fritando hambúrguer no país.



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