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Festival ‘Pela Vida das Mulheres’ mobilizou feministas de diversos estados

por Angela Freitas

Feministas, redes e organizações engajadas na luta pelo direito ao aborto no Brasil preparam uma estratégia de mobilização e comunicação em torno da audiência pública no Supremo sobre a ADPF 442 (3 e 6 de agosto). O resultado foi a campanha #NemPresaNemMorta, para influenciar a mídia e as redes sociais ampliando, na sociedade, o alcance do debate que aconteceria entre os muros do Supremo Tribunal Federal. A campanha foi lançada em 19 de julho, com página no Facebook e canais no Twitter e Instagram, anunciando “a chance histórica de caminhar juntas no sentido de mudar para sempre a vida das mulheres!” Caso aprovada a ADPF 442, ficará o aborto até 12 semanas descriminalizado no Brasil. O símbolo escolhido foi o ramo de arruda, planta à qual se atribui o poder de afastar os males e que é também popularmente conhecida por seu efeito abortivo.

A Frente contra a Criminalização das Mulheres e Pela Legalização do Aborto (organização nacional criada em 2007) propôs, neste contexto, um Festival pela Vida das Mulheres a se realizar entre os dias 3 e 6 de agosto, envolvendo militantes nos diversos estados brasileiros, além das caravanas que rumaram à capital federal, locus da audiência pública. Em Brasília o Festival se instalou nos jardins do Museu Nacional, a poucos quilômetros da sede do Supremo, sendo a página da campanha #NemPresaNemMorta o canal oficial de informação, organização e divulgação do evento.

Delegações do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Goiânia e Espírito Santo, num total de cerca de 400 mulheres, viajaram em ônibus fretados, hospedando-se em acampamentos e albergues. Estima-se que, ao todo, cerca de seis mil mulheres passaram pelo evento ao longo dos quatro dias de Festival. Na maioria eram mulheres jovens, mas o evento atraiu militantes as mais diversas, e de todas as gerações, que se emocionavam ao chegar encontrar uma estrutura montada ao redor do grande palco, com telão, que oferecia o privilégio de assistir, em alta qualidade, a transmissão ao vivo das audiências públicas. Nos intervalos, as seis tendas espalhadas pelo espaço foram palco de rodas de conversa, mesas de debate, oficinas, manifestações culturais e artísticas, além de facilidades como creche, banheiros, fornecimento de refeições e água e um eficiente esquema de segurança.

No dia 6 esta programação se encerrou às 5 horas da manhã, às portas do Supremo, com o Ato Inter-religioso Pela Vida das Mulheres, momento de harmonização e concentração de forças para ocupar a sala oficial e assistir in loco o segundo dia da audiência pública. Um grupo de militantes ali estava desde a 1 hora da madrugada, reservando lugar na fila para garantir a entrada de um bom número de feministas, compondo assim maioria no plenário. Todas conectadas e articulando-se através de grupos no Whatsapp.

Atividades do Festival pela Vida das Mulheres ocorreram em outras 20 localidades de todas as regiões do país (15 capitais mais 04 cidades). Em várias delas o Festival se estendeu até o dia 8 de agosto, com lenços verdes e manifestações de apoio às hermanas, pela aprovação da legalização do aborto no Senado argentino.

Sucesso na comunicação – O grupo responsável pela comunicação fez o livetweeting das sessões no Supremo usando o perfil @direitoaoaborto, reverberando as principais falas favoráveis ao aborto e fazendo o fact-checking das falas contrárias. A principal hashtag utilizada (#NemPresaNemMorta), chegou mundialmente aos Trending Topics ficando na 5ª posição. A conta @direitoaoaborto alcançou 855 mil impressões nos tweets, 8300 Likes, 1800 seguidores em apenas 12 dias e 4200 Retweets.

Este foi o Tweet com maior engajamento:

35.846 impressões, 328 likes, 278 RTs

Estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas DAPP mostrou que, desde as 14h de quinta-feira (02/08), dia anterior ao início da audiência, até 14h da segunda-feira, 6 de agosto, o debate sobre aborto no Twitter gerou 711.800 posts na rede social. A hashtag mais usada no período, #abortoécrime, esteve presente em cerca de 199 mil menções (28% do total). A segunda e a terceira hashtags mais usadas, #nempresanemmorta (9% do total de tuítes), e #legalizeoaborto (6%), mobilizaram juntas cerca de 106 mil menções. Os usuários favoráveis à descriminalização do aborto foram responsáveis por 68% do total de perfis que se engajaram no tema. Doze matérias na imprensa repercutiram o debate sobre aborto no Twitter citando a hashtag #NemPresaNemMorta.

Com cobertura em tempo real das atividades em Brasília, as páginas da Campanha no Facebook e Instagram também mobilizaram milhares de seguidores. Vídeos das exposições na audiência pública foram editados para compartilhamento nas redes sociais e no WhatsApp. Por meio de uma parceria com a página Quebrando o Tabu, os três primeiros vídeos receberam mais de 2 milhões de views e 50 mil compartilhamentos.

Entre 30 de julho e 12 de agosto os principais jornais, sites e blogues de grande audiência publicaram 469 matérias sobre a ADPF 442, ou sobre aborto de modo geral. Significativa maioria do conteúdo publicado na grande imprensa foi a favor, ou neutra. Os dois principais jornais do país publicaram editoriais antes da audiência: O Globo defendendo a descriminalização do aborto e a Folha de S.Paulo defendendo a realização de um plebiscito. E o Diário de Pernambuco, de grande circulação na Região Nordeste, publicou editorial favorável no último dia da audiência.

Em tempos dos mais difíceis da história e da política brasileira, o desafio é grande, para as feministas, de manter viva a fantástica sinergia que sustentou esta ação.



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