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As campanhas de prevenção no carnaval 2018

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A tradição carnavaleca no Brasil é, indubitavelmente, forte. Na origem cristã da festa, o carnaval marca a bonança antes da quaresma, um período longo de jejum, que acaba na Páscoa. No Brasil, a tradição se refez a partir das grandes estruturas de desigualdade nos níveis regionais e locais, tomando contornos próprios entre as culturas locais e reafirmando limites geográficos entre elite e escravos, que dariam origem aos clubes e às escolas de samba, entre outros. (Leia aqui.)

O carnaval, no entanto, é um momento de festividade, onde o riso tem a função de renovar o complexo popular, desvelar as hierarquias e destroná-las em manifestações marcadas pelo escárnio, a resistência e a sexualidade como demonstrações políticas. Luis Simas sobre o carnaval do Rio de Janeiro, argumenta que “entrudos, corsos, batalhas de confetes, festa da Penha, rodas de capoeira, cordões, bailes de mascarados, escolas de samba e caciques de Ramos, suvacos e simpatias, clóvis e bate-bolas, dão pistas para se entender como as tensões sociais – disfarçadas ou exacerbadas em festas – bordam as histórias da cidade plural”. No contexto atual da cidade do Rio de Janeiro, essa festa tem sido alvo da ascensão evangélica, principalmente no Executivo, que tem realizado diversas medidas para sabotar o carnaval em suas tradições, criando impedimentos e cortando investimentos para a celebração que acontece nas ruas e na Sapucaí, a fim de promover uma cultura de “resgate cristão”. (Leia aqui.)

Outra tradição do carnaval são as campanhas de prevenção do HIV/AIDS, lançadas pelo Ministério da Saúde e de forma particular por empresas. Frente ao aprofundamento da restauração conservadora e o cenário político desastroso, especialmente desde que o golpe foi realizado em 2016, acreditamos que analisar a forma como a linguagem é utilizada nas comunicações oficiais nos oferece uma chave de entendimento sobre o momento político. Analisá-las principalmente a partir do tratamento em relação à AIDS, nos privilegia sobre o entendimento a respeito da sexualidade de forma ampla.

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A campanha do Ministério da Saúde de 2018 tem como lema “#Vamos combinar”, que se relaciona às políticas de prevenção combinada recentemente promovidas pela Saúde, como a introdução da PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) em dezembro de 2017. Em seu site, o material indica as diversas formas de prevenção, como o uso de camisinha, a testagem, o tratamento pré-natal, o uso de antirretrovirais e a PEP (Profilaxia Pós-Exposição).  No entanto, a forma de promoção mais privilegiada são os vídeos, um oficial da campanha e outro em parceria com um canal de coreografias. Salvador Corrêa, Coordenador de Treinamento e Capacitação da Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, argumenta que os vídeos invisibilizam pontos cruciais para a prevenção do HIV/AIDS, como as populações-chave da epidemia, a sexualidade e o direito à diversidade sexual ao se tratar de uma campanha que promove o sexo seguro e que sequer menciona essa palavra,  fadando o material a uma linguagem “careta e pouco inovadora, de viés quase cristão que retoma a máxima de não julgamento de gays e lésbicas”, como analisa Corrêa.

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Em contramão, a publicidade da campanha “Liga da Pegação Olla”, da marca de camisinhas de mesmo nome, conta com a participação do cantor drag Pablo Vittar, do cantor e ator Lucas Lucco e da atriz Cléo Pires. Recentemente, os dois cantores protagonizaram juntos cenas sensuais no videoclipe da música “Paraíso” e Cléo Pires já teve a capa da Revista Playboy, em que ela posa nua, avaliada como a melhor capa da publicação.  O vídeo da campanha de prevenção aborda tópicos como o assédio e a diversidade sexual, além de promover  a “pegação”, “a espontaneidade e a diversão sem tabus”, coerente com o clima do carnaval e com a sexualidade, como afirmou Guilherme Nogueira, Diretor de Marketind da empresa, que também realizaram um evento sob esse lema.



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