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Feministas latino-americanas se reúnem em Montevidéu

 Angela de Freitas

WhatsApp Image 2017-12-16 at 11.33.14Com o lema “Diversas, mas não Dispersas” aconteceu nos dias 23, 24 e 25 de novembro, em Montevidéu, o 14o Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe, organizado por Cotidiano Mujer, sede da Articulação Feminista Marcosul. O evento reuniu duas mil mulheres, sendo as jovens grande maioria, assim como as feministas do Cone Sul. Foi uma oportunidade para atualizar agendas e reforçar grandes consensos, em particular a resistência ao desenvolvimentismo neoliberal e à onda de retrocessos conservadores presentes em toda a região, com as respectivas especificidades.

Captura de tela 2017-12-16 12.01.11Alguns debates mostraram que “não dispersas” inclui tensões. Temas importantes não foram enfrentados, como a interação “branquitude” e racismo. Na assembleia sobre “Racismo e Discriminação” a presença de feministas brancas foi pífia. Outra questão não aprofundada foi a tensão entre a RedTraSex (Rede de Mulheres Trabalhadoras Sexuais da América Latina e Caribe) e sua luta por direitos trabalhistas, de um lado, e a corrente abolicionista de outro, que não quer ver regulamentada a prostituição por entender que está no marco da exploração patriarcal e capitalista sobre o corpo das mulheres. As trabalhadoras do sexo chegaram ao 14º EFLAC com uma Carta Aberta às Companheiras Feministas

25398277_461542814241191_7814639911954140950_oEntre as assembleias matinais (veja aqui a programação completa) acompanhamos a que tratou do tema “Corpos, Subjetividade e Direitos”. Neste espaço ficou claro o forte consenso em torno da luta pelo direito ao aborto livre e seguro, mas também uma fragmentação e disputa por linguagens e perspectivas de análise. Foi possível diagnosticar que os feminismos, em seu papel demolidor das lógicas de dominação carecem, em seu conjunto, de um rompimento radical com a cultura colonial, sobretudo levando em conta a conjuntura de ataques à “ideologia de gênero” e reforço ao binarismo. O desafio posto é o de incorporar em definitivo, nas análises, estudos e nas avaliações das políticas públicas, as diferenças regionais e territoriais, mas também as especificidades não só das mulheres negras e indígenas, mas da população LGBTI (foi marcante a presença trans no 14º EFLAC), de portadoras do HIV-Aids, das próprias trabalhadoras do sexo, das velhas (e jovens e meninas, naturalmente), das que estão em situação de encarceramento, das mulheres com deficiência (estas questionando os olhares que as querem infantilizar  e “assexuar”). Em foco, um elenco de questões como a transformação das famílias, parto livre, educação sexual integral, mortalidade materna, sexualidades como fator de libertação, violência gineco-obstétrica, medicalização, consumo de drogas, assédio, feminicídio e, evidentemente, aborto, objeção de consciência, Estado Laico, repressão e redes de cuidado. A batalha pelo aborto legal e seguro resultou fortalecida não apenas nesta assembleia, mas no conjunto das outras assembleias correlatas e das oficinas vespertinas autogestionadas que trataram do tema. Há uma unanimidade sobre a retirada do delito de aborto dos códigos penais, e as ativistas da região se propõem a formular mensagens orientadas para o direito à vida e para a quebra de estigmas, buscando uma lógica mais progressista e menos apegada aos “discursos médicos ou legais”.



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