A LiteraTrans – editora voltada para dar visibilidade a textos e artigos produzidos por travestis, mulheres transexuais, homens trans, n-b e outras transgeneridades – acaba de lançar o livro (um e-book) “Nós, Trans – Escrevivências de Resistência”. Você pode adquirir já clicando aqui.
A obra fala sobre a experiência por meio dos olhos de quem convive com a transfobia, marginalização, transições e vida em uma sociedade cisnormativa diariamente. Ele visa também incentivar tais produções e evidenciar a importância destes relatos tanto para a sociedade em geral quanto para acadêmica.
A capa do livro “Nós, Trans” |
Com a presença de 40 nomes como a da cantora MC Xuxu (de um beijo pras travestis), da cartunista Laerte Coutinho, da transfeminista Beatriz Pagliarini, da ativista Anyky Lima, Bernardo Mota, dentre outros e outras, o livro procura interseccionalizar com várias vivências trans e é pura arte, poesia e resistência.
A pesquisadora, psicóloga e professora trans Jaqueline Gomes de Jesus ressalta a importância da produção intelectual das pessoas trans e que é comum tais produções serem invisibilizadas na academia. “É comum as pessoas não se interessarem, não lerem, ou quando leem, repetem nossos pensamentos e contribuições, mas nem ao menos citam nossos nomes”.
MC Xuxu, Tito Carvalhal, Jaqueline Gomes de Jesus; ao centro, Bernardo Mota e Laerte E abaixo Maria Léo Araruna, Anyky Lima e Bia Pagliarini (Montagem: João Hugo) |
A estudante de direito travesti Maria Léo Araruna diz que a construção do livro foi motivada pela ansiedade e fúria. “Temos a pressa e o ímpeto de romper com as concepções feitas sobre nós a partir de um olhar cisgênero que coloniza nossas subjetividades. O que apostamos aqui é em uma guerra de palavras, uma disputa pelo conhecimento. E, temos como objetivo fazer parte de uma trajetória que visa a autonomia dos corpos e a libertação do imaginário sobre nós mesmas/os”.
Maria ajudou a organizar o livro, com parcerias e o apoio fundamental do Bruno Gabriel Simões, da editora LiteraTrans, que tem o intuito de propagar os trabalhos de pessoas trans. A formatação do livro é de Bruno e a ilustração da capa é de Lune Carvalho, homem trans.
O livro custa R$ 20 e pode ser adquirido aqui. Eu já quero o meu!
Confira alguns trechos:
“Minha masculinidade
Transviada
Se forja é nas gentilezas
Trans-vejo
Uma buceta masculina
Destruindo a normatização
Meu corpo
Pura revolução” (Tito Carvalhal)
“(…) além da hipersexualização da transexual e da travesti, nós, pessoas trans negras, somos duplamente sexualizadas, objetificadas e exploradas. Nós somos vistas como os seres mais deprimentes que existem. A maioria das meninas trans que conheço e que se prostituem são negras, e não por opção, mas por falta de oportunidades mesmo” (Rafaela Lincoln de Souza Lima)
“O transfeminismo é a luta para que a passabilidade cis – seja em sua presença ou não – não seja justificativa para que pessoas trans sejam estigmatizadas em suas escolhas – entendidas enquanto estratégias de resistência na forma como habitam o mundo -, tampouco requisito para as pessoas trans serem consideradas sujeitos dignos de direitos” (Beatriz Pagliarini Bagagli)
A “macho-linidade” é um clube difícil de ter acesso, e eu não quero passar perto. Por mais que esperem isso de mim, eu não preciso ser um macho. “Mas assim será mais difícil convencê-los”, dizem. (…) Então vou tentar, pois é isso que eu quero” (Bernardo Mota)
Jef Cardoli: “Um corpo não-binário negro que resiste” |
“Este corpo não se reconhece enquanto homem, tampouco enquanto mulher. É um corpo que flui, que vivencia experiências próprias de gênero. Um corpo rebelde, desobediente ao comportamento de gênero que outrora lhe foi designado. Um corpo não–binário negro que resiste” (Jef Cardoli)
“Quero chegar aos 100 anos, se eu continuar com a vida q tenho hoje, sendo respeitada e reconhecida, sendo uma pessoa útil à comunidade, uma pessoa que pode falar para uma travesti que ela tem direito à saúde, à educação, a uma conta no banco. Isso para mim é felicidade. Mas, a vida de uma travesti idosa não é glamour, pelo contrário, é muita tristeza (Anyky Lima)
“Mas, o que você, pessoa comum e talvez não militante, pode fazer em prol das pessoas trans? É algo muito simples, que não dói e nem exige esforço: respeite-nos, respeite nossos nomes, respeite os pronomes pelos quais queremos ser chamados, respeite nossas identidades. E, eu não vou dizer que agradeço, porque isso era algo que pessoas trans nem deveriam ter que pedir, porque respeito é nosso por direito” (Diego Nascimento)