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Alia Farid: Memória, espaço, movimento

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Em novembro de 2016, a seção Arte&Sexualidade do SPW dedicou espaço para o trabalho de Kátia Sepúlveda, uma das 46 mulheres selecionadas para a 32º Bienal de São Paulo. Em janeiro de 2017, escolhemos outra integrante da Bienal para ser uma das artistas do mês. Alia Farid é kuwaitiana e vive em Porto Rico. Espacialização, movimento e memória estão no centro de suas criações artísticas. Em uma de suas obras mais coloridas, a artista combina fotografias e tapetes para retratar as muitas Mesquitas de Porto Rico (imagens acima). Ela pode e deve ser vista como um ícone dos e das imigrantes para quem as fronteiras dos EUA foram fechadas pela ordem executiva assinada por Donald Trump em  27 de janeiro.

Mas há outras boas razões para escolher Alia Farid. O video  que ela criou para a Bienal documenta uma jovem mulher vagando pelo abandonado parque internacional Rashid Karami, em Tripoli, no norte do Líbano. Assim como o pavilhão da Bienal, em São Paulo, o parque – contendo 15 construções individuais – foi projetado por Oscar Niemeyer,  para abrigar uma feira mundial. Mas a construção foi interrompida pelo início da guerra civil libanesa em 1975. A jovem mulher vaga pelo sítio arqueológico dos tempos atuais, retomando memórias e levando nossa atenção em direção à carnificina perene que tem lugar nas e para além das fronteiras árabe-israelense. O trabalho fala a partir de e sobre uma lugar  que é ponto nodal da geopolítica contemporânea.

Screen Shot 2017-01-31 at 11.17.25Mas as “ruínas” de Rashid Karami também podem ser familiares aos leitores/as brasileiros/as. Elas espelham os estádios enormes construídos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Essas  estruturas gigantescas — muitas das quais também estão condenadas ao abandono e à deterioração — são hoje protagonistas das investigações da Lava Jato sobre a corrupção massiva envolvendo as grandes construtoras brasileiras. Coincidentemente ou não, nos anos 1970, algumas dessas companhias iniciaram suas operações internacionais, com o apoio do regime militar, no Oriente Médio. Não é de todo absurdo supor que uma dessas empreiteiras estivesse envolvida na construção do parque Rashi Karami. Uma última observação: o título do trabalho de Alia Farid publicado na home do nosso site — Palco para qualquer revolução  — é também muito inspirador para o ano que acaba  de começar.

Para saber mais sobre o trabalho de Alia Farid.

 



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