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NOVO SITE DE ÓDIO MASCU NÃO TEM NADA DE NOVO

Originalmente publicado no blog Escreva, Lola, Escreva. Disponível em: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2015/07/novo-site-de-odio-mascu-nao-tem-nada-de.html

Nesses últimos dias um “novo” site de ódio viralizou, chegando às manchetes da grande mídia. Eu, que venho denunciando (e sendo rotineiramente atacada) por esses sites há mais de quatro anos, mal aguento mais falar no assunto. Porque é sempre a mesma coisa.
Porém, como tem um monte de gente que não sabe do que se trata, vamos começar pelo começo, pra quem acha que há algo de novo no ar — que parece ser o jeito como a imprensa lida com esse tipo de denúncia. Existe no mundo um movimento misógino chamado masculinismo, que diz lutar pelos direitos dos homens.
Segundo os mascus (como eu os apelidei), o homem branco e hétero é a verdadeira vítima do mundo. Lógico que, com esta lógica torpe que não se sustenta, mascus não são levados muito a sério, e quase sempre têm que se esconder por trás do anonimato para não serem ridicularizados na vida real.
Qualquer pessoa minimamente inteligente que passar cinco minutos em qualquer blog, chan ou fórum mascu percebe que são grupos formados por homens frustrados, preconceituosos e anti-sociáveis que elegeram o feminismo como seu inimigo número um. Um ótimo resumo do que é o masculinismo continua sendo este vídeo de 40 segundos: homens revoltados porque não ganharam o que lhes foi prometido (mulheres lindas, carrões, status, poder, dinheiro). Eles passaram a ver como foram enganados ao tomar a “pílula vermelha“, e descobriram que todas as mulheres são vadias. E não entendem como as vadias não os querem, apesar de serem caras tão bacaninhas.
Essa ideologia misógina está longe de ficar só no discurso, e volta e meia gera trágicos massacres: Marc Lépine em Montreal, George Hennard no Texas, Charles Roberts na Pensilvânia, George Sodini, também na Pensilvânia, Wellington Menezes em Realengo, RJ, Anders Breivik, em Oslo, Elliot Rodger na Califórnia, e o mais recente, John Houser, que atirou em onze pessoas num cinema da Lousiana na semana passada. Em comum entre eles, o ódio às mulheres.
Site de ódio de 2014
Homens como esses são encorajados e idolatrados por outros homens na internet que também odeiam mulheres. Eles são a prática de toda uma “teoria” (sem nenhum embasamento) de ódio. Tanto que, quando um mascu cometeu o massacre de Realengo, matando dez meninas e dois meninos numa escola, vários blogs mascus imediatamente fecharam as portas, temendo a investigação da polícia.
Montagem de mascus sanctos na prisão
(criação deles)
Um deles, logo o mais popular, o de Silvio Koerich (um pseudônimo), voltou meses depois, no segundo semestre de 2011, agora nas mãos de dois mascus sanctos (uma ala mais radical, mas só muda a intensidade do ódio, o pensamento é igual): Emerson Rodrigues, que se autointitulava Engenheiro Emerson (embora não tenha diploma de engenheiro), e Marcelo Valle Mello, que já havia sido condenado em 2009 por racismo e tinha BO por bater na própria mãe.
Durante meses, essa dupla dinâmica da extrema direita fez posts ameaçando pessoas (eu e o deputado Jean Wyllys parecíamos ser os alvos preferenciais), oferecendo recompensas para quem nos torturasse ou matasse, prometendo um atentado na UnB (ex-faculdade de Marcelo) para matar “vadias e esquerdistas”, rindo da polícia (“ninguém vai me pegar”), e defendendo a legalização do estupro, o estupro corretivo para lésbicas, a pedofilia, e o fuzilamento de mulheres, negros e homossexuais.
O site viralizou, e chegou a quase 80 mil denúncias na Safernet. Muita gente sabia quem eram os autores (Emerson, inclusive, tinha feito um vídeo na Índia com seu rosto e nome, com o mesmo discurso do blog), mas ninguém ia preso. Finalmente, em março de 2012, aconteceu: Emerson e Marcelo foram surpreendidos pela Operação Intolerância, em Curitiba, e levados à cadeia. Todos achavam que eles seriam liberados logo, mas felizmente não foi o que ocorreu. Ambos ficaram presos por um ano. Durante a prisão, foram julgados e condenados a 6,5 anos.
Assim que saíram, em maio de 2013, os dois me enviaram emails dizendo que iriam me processar. Emerson teve uma filha enquanto esteve na cadeia, e por um breve período pareceu que se afastaria do ódio virtual. Não durou muito: logo se envolveu com o ódio da direita legalmente aceita (Olavo de Carvalho, Julio Severo, Padre Paulo Ricardo, Bolsonaro etc). Quando foi recusado até por seus velhos gurus, bolou uma justificativa para explicar o “assassinato de reputações” do qual se diz vítima. Inventou que foi perseguido por ser Nessahan Alita, um outro guru misógino respeitado apenas por mascus e alguns PUAs (pick up artists).

Salvo um reaça qualquer como Luciano Ayan, ninguém mais acreditou. Emerson fez (faz ainda) dezenas de vídeos repetindo as mesmas fantasias. Em alguns deles, me implorava para fazer uma aliança com ele para mandar seu agora desafeto, Marcelo, de volta à cadeia. Em outros, me xingava e continuava dizendo que iria me processar. Em mais alguns, afirmava que eu fazia aliança com Marcelo para destruí-lo. Eu nunca troquei meia palavra com Emerson porque, né? Ninguém merece.

Post de Emerson na época do Orkut: dicas de como estuprar meninas
Já Marcelo, pouco depois de se ver livre, em 2013, voltou a ameaçar os inimigos de sempre (principalmente eu, claro). Criou um chan para se comunicar com outros misóginos. Encontrou um parceiro do crime na figura de Gustavo Guerra, um jovem neonazista gaúcho.
Uma das ameaças de Guerra a mim,
em dezembro de 2014

Guerra chegou a fazer várias ligações telefônicas com ameaças para a minha casa, o que me levou a registrar um outro boletim de ocorrência contra ele e Marcelo. Nos últimos meses, depois de criar a página “Eu não mereço mulher preta”, que também viralizou, Guerra sumiu. Acredita-se que ele esteja internado.

Marcelo continuou fazendo a única coisa que sabe fazer, a sua missão na vida: espalhar ódio. Criou vários sites, como Homens de Bem, Tio Astolfo e PUAHate. A criação de todos eles, a convocação para que seus seguidores contribuam com textos, a criação de fakes para divulgá-los, as comemorações por conseguir “gerar lulz” e alguns trocados, e as frustrações quando não era capaz de viralizar os sites — tudo isso está registrado no seu chan (cujo nome não vou passar, porque ele ainda existe). Não há dúvida alguma que Marcelo (CPF 002.395-011-01, RG 237959-3/SSP-DF e 14252264-0/SSP-PR) seja o autor de todos eles. A Polícia Federal está cansada de saber disso.
Eu monitoro o chan dele há um ano e meio, e até agora não consegui entender a rixa que ele tem com um tal de Cauê Felchar. Nem sei quem é Cauê. Aparentemente é, ou era, aluno de Química da Unesp e moderador do 55 Chan. Parece tratar-se apenas de rivalidade entre chans. Mas Marcelo o odeia e vez por outra cria textos ridículos e os assina com o nome de Cauê.

Nos últimos meses, intensificou-se a briga entre Marcelo e Emerson (que brigaram já quando estavam presos, porque, segundo Marcelo, Emerson o “caguetou”).

Um fica ameaçando o outro de morte, prisão, espancamentos mil. O chan de Marcelo tem especial predileção por ameaçar também a filha de Emerson, uma menina de 2 anos. É frequente a publicação de fotos da garota com esperma por cima. Ainda assim, mesmo com ameaças nada veladas a uma menina de 2 anos, Emerson e Marcelo vivem costurando tréguas do tipo “Se você parar de falar de mim, eu tiro do ar meus vídeos contra você”.

Recentemente, um tal de Robson Otto Aguiar, que se autointitula (juro!) “uma voz viril neste mundo vaginante”, um rapaz de Várzea Grande, Mato Grosso, que tem a coragem de assinar as sandices que diz com seu nome real, fez alguns vídeos defendendo Emerson e criticando Marcelo. Por conta disso, foi incluído no rol dos inimigos de Marcelo.

Criação: Robson Otto Aguiar
Eu nunca tinha ouvido falar desse Robson Otto até maio, mas ele já me difama em seus blogs faz mais de um ano (aparentemente, todo mascu precisa me atacar pra passar no teste da misoginia). Este é um post dele de maio. Ele me enviou o link pelo Twitter:

 

Mais tarde, fuçando em seu blog, vi que em julho do ano passado ele foi chamado para depor sobre posts publicados no seu blog — um em que ele prega espancar esquerdistas, outro em que ele aprovou que um amigo transasse com uma menina de 12 anos…

 

E o post abaixo, de 2013, em que este grande ser humano chamado Robson Otto se orgulha de ter batido numa mulher grávida:

 

Além disso, Robson Otto já havia feito vídeos xingando a deputada estadual Janaína Riva (PSD-MT). Seu ódio contra Janaína é por ela ter cobrado uma maior participação feminina na política.

Quero dizer, existe mesmo alguma diferença entre mascus?

Mas Robson Otto não é o autor do mais novo site de ódio divulgado pela imprensa (com exceção do Correio Braziliense, que acertadamente optou por não imprimir o nome do site — que é como todos devem agir: denuncie, nunca divulgue). Marcelo somente regurgitou textos antigos, publicados desde a época do Silvio Koerich (e até antes, em comunidades mascus no Orkut), traduziu outros de sites americanos que falam de “filosofia do estupro”, e aproveitou trechos de seus seguidores. Assim, inventou um “guia” de como estuprar mulheres e meninas.

A discussão no seu chan foi mais no sentido de quem deveriam culpar. Qual desafeto de Marcelo levaria a culpa e seria apontado como autor do site, quando viralizasse (e Danilo Gentili ajudou muito na divulgação do site, pedindo que seus milhões de leitores o denunciassem, o que não dá pra entender bem o porquê — não era tudo zoeira? Gentili não lançou até o Desumaniza Redes, premiando os maiores trolls?)?

No final, apesar da turma do chan votar maciçamente em Emerson para a autoria do site, Marcelo decidiu assinar com o nome de Robson Otto. Ontem à noite, durante meia hora, quem clicava no site era direcionado ao famoso vídeo de Emerson na Índia. Hoje, é direcionado ao “blog” de Cauê Felchar, feito em janeiro, celebrando o incêndio da boate Kiss. Apesar desses três definitivamente não serem flor que se cheire, não são os autores do mais recente site de ódio.

Imagem do site de ódio ontem
Eu fico aqui sem entender o que a polícia está esperando. O acesso que eu tenho ao chan de Marcelo eles também têm. Marcelo nem grande programador é (até hoje é piada por ter hackedo um site usando Internet Explorer) e, para algum profissional em informática, não deve ser difícil rastrear seu IP ao do site.
Enquanto isso, já tem reaça fazendo vídeo afirmando que o autores do site (e de todos os sites de ódio mascus) são… as feministas. Sabe, para fingirmos que existe misoginia no mundo.
 


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