Sxpolitics [PTBR]

ABIA vê com cautela recomendação da OMS para uso de antirretrovirais entre homens que fazem sexo com homens

ABIA vê com cautela recomendação da OMS para uso de antirretrovirais entre homens que fazem sexo com homens

A Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS (ABIA) recebe com bastante cautela a nova diretriz da Organização Mundial de Saúde (OMS) – que recomenda que os homens que fazem sexo homens (HSH) considerem a adoção de medicamentos antirretrovirais para a prevenção à infecção pelo HIV.  Ainda que a nota seja relevante para a ampliação de tecnologias e técnicas de prevenção, numa análise mais profunda, destacamos que há fatores a serem observados com precaução.

Reconhecemos que a população homossexual, com ênfase entre os jovens, é a mais atingida pela epidemia. Contudo, devemos considerar a heterogeneidade entre os HSH, grupo formado por gays, bissexuais, garotos de programas, pessoas trans (que podem se identificar como mulheres, trabalhadores do sexo, etc) e ainda homens que fazem sexo com outros homens e não se identificam como gays ou homossexuais.

Agregar esses sujeitos num mesmo grupo e afirmar que há uma “explosão” da epidemia na população HSH cria um pânico moral, reproduz a ideia de grupo de risco e distorça as diferenças sociais dessas subpopulações.  É preciso considerar o fato que esses grupos podem ter taxas de infecção diferentes e, portanto, devem ser observados segundo suas especificidades.

Entendemos ainda ser um equívoco pensar que uma tecnologia (no caso, a Profilaxia Pré-Exposição – PrEP ou seja, o uso de medicação para se proteger do HIV) associada ao uso do preservativo possa ser uma resposta ampla à epidemia. Todas as novas formas de prevenção são bem-vindas, desde que componham o leque de possibilidades e escolhas do sujeito, seja ou não pertencente a grupos vulneráveis. As estratégias de prevenção necessitam ocorrer no/para/com o social e devem ser adaptadas às diversidades e demandas dos sujeitos.

Embora reconheçamos ser notável a contribuição de estratégias biomédicas no enfrentamento da epidemia resultando em novas tecnologias de prevenção, a ABIA defende que a resposta à AIDS deve ir além do biomédico e considerar os aspectos culturais, sociais e humanos, especialmente por se tratar de uma doença muito estigmatizada. É preciso resgatar o debate sobre política e direitos humanos a fim de repolitizar o enfrentamento da epidemia de uma maneira positiva.

Esta decisão da OMS, às vésperas da Conferência Internacional de AIDS, em Melbourne (Austrália), e com ampla repercussão na mídia, dialoga com o poder da indústria farmacêutica e da medicalização sem uma reflexão crítica da epidemia. E ainda reforça a ação de cientistas globais que travam batalhas em busca de financiamento para estudos epidemiológicos.

O documento da OMS consolida uma série de diretrizes para prevenção, diagnóstico e tratamento das populações mais expostas à infecção pelo HIV (HSH, pessoas que usam drogas injetáveis, presidiários e outras formas de aprisionamento, profissionais do sexo e pessoas trans). Com base numa primeira leitura dessas diretrizes, a ABIA recomenda:

– Incluir o método do “tratamento como prevenção” entre as cinco diretrizes da OMS sobre prevenção, junto com as outras técnicas como o preservativo, o PrEP, o PEP e e outros métodos atualmente em fase de pesquisa (como vacinas e microbicidas) a fim de oferecer todas as opções;

– Aprimorar o debate sobre estes métodos;

– Reforçar os empenhos para viabilizar a prevenção combinada, que utiliza não somente métodos biomédicos, mas também os sociopolíticos como as intervenções estruturais;

– Resgatar o diálogo com a sociedade na construção da resposta à epidemia.

Rio de janeiro, 15 de julho de 2014.



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo