As meninas não podem ser um “pretexto”
O sequestro de mais de 200 meninas pelo grupo islâmico extremista Boko Haram na Nigéria provocou uma campanha mundial pela libertação das reféns, que contou com o apoio de figuras como Michele Obama e cantores e celebridades de Hollywood. A mídia internacional tem dado ampla visibilidade ao caso, muitas vezes afirmando que a fraqueza do governo nigeriano foi a principal causa do rapto.
O tom salvacionista que tem prevalecido no discurso da mídia, das organizações internacionais e nas redes sociais, em particular no hemisfério Norte, está sendo criticado por uma série de vozes. A organização The South African Chapter of All Nigerian Nationals in Diaspora (ANNID), por exemplo, divulgou um documento público pedindo ao governo nigeriano que tome as medidas necessárias para trazer as meninas de volta e fazendo um apelo para que a União Africana preste o apoio necessário, ao mesmo tempo em que pondera sobre o risco desse tipo de campanha criar um clima favorável a uma intervenção militar em território nigeriano. O documento também sublinha que a Nigéria deve lutar para criar “uma vida melhor para todos os nigerianos, independentemente de religião, idade ou orientação sexual”.
Argumento semelhante é desenvolvido no artigo de Jumoke Balogun no The Guardian, quando o autor escreve o seguinte:
“… Os pedidos para que os EUA se envolvam nesta crise prejudicam o processo democrático na Nigéria e cooptam o movimento crescente contra a administração inepta e corrupta de Jonathan. Foram os nigerianos que forçaram o presidente a enfrentar a situação das meninas desaparecidas. Está nas mãos dos nigerianos buscar a justiça para essas meninas e garantir que o governo preste contas. A ênfase na ação dos EUA prejudica as meninas raptadas e expande e sustenta o poderio militar dos EUA. Se você deve fazer algo, aprenda mais sobre os ativistas e jornalistas incríveis como este, este e este, apenas para citar alguns, que arriscaram ser presos e as suas próprias vidas por desafiar o governo nigeriano a melhorar as condições de vida de seu povo dentro do processo democrático”.