O Vaticano que a imprensa brasileira não vê
O Vaticano foi questionado essa semana no Comitê da ONU contra a tortura a respeito dos casos de abuso e violência sexual que há anos vêm sendo relatados por vítimas e por veículos de comunicação. Foi a primeira vez que a Santa Sé apresentou um relatório à comissão, desde que ratificou a convenção em 2002.
A audiência representou um raro momento para se observar a Igreja Católica sendo interrogada num mecanismo internacional de vigilância de direitos humanos acerca dos crimes sexuais cometidos por clérigos. No entanto, na grande imprensa brasileira, a cobertura foi anêmica. Os principais jornais do país mencionaram a audiência de maneira factual, através de textos produzidos por agências de notícias (aqui – aqui – e aqui). Pelo tom e brevidade das notícias, não houve aprofundando do tema no que diz respeito às condições que favorecem aos abusos dentro da Igreja, ao papel da Santa Sé no acobertamento e não punição dos abusos e à situação e mobilização das vítimas e seus parentes.
Análises mais contextualizadas e que abordam o problema de uma maneira mais ampla e profunda podem ser encontradas abaixo, em artigos de organizações internacionais, em especial o Center for Constitutional Rights, que desde 2011 move ações contra a Santa Sé em relação a esses casos. Da mesma forma, a imprensa internacional produziu informação mais substantiva sobre a sessão no Comitê de Tortura. Por exemplo, é importante referir que tanto nessa sessão, quanto na sessão do Comitê dos Direitos da Criança em fevereiro, a Santa Sé argumentou que a aplicação dos tratados por ela ratificados se restringe ao território do Estado Vaticano, tese essa contestada pelos membros dos dois comitês.
Cabe perguntar: o que explica a escassez do assunto na imprensa nacional?