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Mortalidade materna: o que os números falam, de fato?

Mortalidade materna: o que os números falam, de fato?

Matéria publicada ontem (28/11) no jornal O Globo afirma que o estado do Rio de Janeiro registrou queda de 33% nos casos de mortalidade materna de janeiro a outubro deste ano, comparado ao mesmo período de 2012. A reportagem destaca a Baixada Fluminense apresentou queda de 64%. O texto traz comentários de autoridades municipais que associam os dados às melhoras no sistema pré-natal, que tem sido o carro-chefe da política do Ministério da Saúde voltada para as mulheres, centrada na concepção materno-infantil.

Apesar da comemoração dos personagens e autoridades ouvidos na reportagem, a médica e demógrafa Sandra Valongueiro argumenta que é preciso analisar os dados de forma ponderada. “Considero precipitado afirmar que houve redução de 33% em um ano. Concordo, portanto, com a Secretaria Estadual de Saúde que ‘preferiu não comentar enquanto os números completos deste ano não estiverem disponíveis no Datasus’. E a forma mais correta de medir risco de morte materna é a utilização de indicadores e não números absolutos”, destaca Valongueiro, que integra o Comitê Estadual de Mortalidade Materna de Pernambuco.

Nova Iguaçu, de acordo com os dados, registrou queda de 70% nos índices de mortalidade materna. De acordo com o secretário municipal de saúde do município, Luiz Antonio Teixeira Junior, a redução reflete os investimentos feitos no sistema de pré-natal voltado para gestantes de alto risco que tem contado com equipes de obstetras e anestesistas completas. “Para haver reduções, é necessário um grande investimento na atenção ao parto e pós-parto imediato, inclusive com mudanças no modelo de regulação e atenção obstétrica. Ainda que não seja possível fazer tal tipo de avaliação, podemos assegurar que as ações de pré-natal não trazem impacto imediato na mortalidade materna. Ou seja, para se obter resultados, é necessário que as coortes de grávidas para quem a assistência tenha sido implementada cheguem ao fim. Assim, um ano é pouco para se atribuir tamanha redução aos investimentos em pré-natal de alto risco”, afirma Sandra Valongueiro.

O secretário de saúde de Nova Iguaçu também credita à Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, influência na queda. A Rede Cegonha é a principal política do Ministério da Saúde voltada para a saúde da mulher. É motivo de crítica entre os movimentos de mulheres pela ênfase na questão materno-infantil e o esquecimento de outros aspectos da vida das mulheres que não passam necessariamente pela maternidade. Assim, a perspectiva integral da saúde da mulher se perde. Por exemplo, a questão do aborto, que constitui a quarta causa de morte materna no país, não tem sido encaminhada a partir de uma perspectiva de direitos humanos. Não à toa, o país continua longe de cumprir uma das metas do milênio que propõe a redução do óbito materno para 35 mulheres para cada 100 mil nascidos vivos. O país, no entanto, apresenta taxas de 68 óbitos por 100 mil nascidos.  Para o Estado brasileiro, os esforços atuais parecem suficientes para dar conta do desafio.



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