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ILGALAC: pessoas trans

ILGALAC: pessoas trans

Devido à maior representatividade de pessoas trans, essa edição da Conferência ILGALAC contou com trocas de experiências e integração mais efetivas entre ativistas dos movimentos de travestis, transexuais e pessoas intersex. Na avaliação de Fernanda Benvenutty, ativista travesti brasileira, a pré-conferência trans foi um momento importante porque possibilitou desfazer uma imagem errônea do sistema político das trans brasileiras, “e pudemos nos aproximar mais das latino-americanas e das políticas que elas estão desenvolvendo – o que é o mais importante; não é conhecer só as pessoas, mas as políticas que estão sendo desenvolvidas, as pessoas que estão desenvolvendo ou buscando desenvolver essas políticas”, destacou a ativista.

Outro ponto de destaque para as pessoas trans nessa V Conferência de ILGALAC foi a possibilidade de discutir, em diversas instâncias, as questões estatutárias. De acordo com Diana Sacayán, ativista trans da Argentina, o movimento de pessoas trans reivindica que o segmento seja representado no nome da ILGA, uma vez que, segundo ela, o que não está nomeado não é visível. “O nome é o que nos identifica. Mais que isso, o nome para nós travestis e transexuais, é um tema da maior relevância”, ressaltou.

Mauro Cabral, ativista intersex, transexual e homossexual argentino, avalia que as masculinidades trans estão conquistando uma visibilidade interessante, entrando aos poucos na agenda do movimento trans. Porém, ainda é difícil introduzir as discussões acerca da diversidade sexual no debate trans, de modo a parecer que todas as pessoas trans são automaticamente heterossexuais. Além disso, Mauro avalia que tanto para as questões trans como na discussão sobre intersexualidade, a diversidade corporal continua sendo um tema pendente de maior debate. “Foi uma experiência muito interessante estar nessa conferência sendo alguém com o meu corpo, e ver o modo como circula a diversidade corporal. Mesmo em conferências gay/trans, fazia muito tempo que eu não encontrava tanta gente me perguntando quando vou me operar. É muito forte”, avaliou Mauro.

Transfeminismo

Diana Sacayán também chamou a atenção para o posicionamento das ativistas trans brasileiras em relação aos grupos trans dos outros países da América Latina. Enquanto no continente as ativistas trans vêm trabalhando junto às feministas, levantando a bandeira do feminismo, as brasileiras caminham no sentido oposto, de desligamento do discurso feminista e, por consequência, das alianças e políticas acompanhadas pelo feminismo. “São pontos de vista diferentes, mas me chamou a atenção, sobretudo tendo em conta que nossas agendas, a do feminismo e a do movimento trans, estão muito relacionadas. Nossa luta é contra o machismo e contra o patriarcado”, completou Sacayán.

Já a ativista Fernanda Benvenutty expôs uma análise distinta. Segundo ela, houve um mal-entendido, em grande medida gerado devido à dificuldade de compreensão do idioma espanhol por parte das brasileiras, que não estavam entendendo o que de fato era a discussão. “Em certo momento, as meninas brasileiras acharam que as latino-americanas estavam querendo impor uma condição internacional e marcaram a posição de que no Brasil já se tem definição de bandeiras de luta das travestis e das trans”, falou Benvenutty. Ela chamou atenção para o fato das bandeiras feministas e trans serem muito similares em muitos aspectos. “Será que as transexuais e as travestis não estão contempladas, não sofrem preconceito da mesma forma? E a questão do direito à reprodução? Será que as transexuais não querem ter filhos/as? Eu acho que os movimentos sociais tem que dialogar com outros movimentos, principalmente os que tem bandeiras de luta parecidas ou iguais, já que em alguns momentos as bandeiras das mulheres feministas são iguais às das lutas das travestis e transexuais”, concluiu a ativista.

 



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