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MINISSAIAS DE 1967

Quinta-feira, 05/11/2009
Folha de São Paulo, página A2

Ruy Castro

RIO DE JANEIRO – A história de Geyse, a estudante agredida por 700 colegas de faculdade em São Bernardo do Campo por usar um vestido curto, me devolveu a 1967, quando nós, os rapazes do 1º ano do curso de ciências sociais da FNFi (Faculdade Nacional de Filosofia), no Rio, víamos com muito prazer o fato de que a maioria das meninas da turma ia de minissaia à aula.

Não eram minissaias sóbrias, a menos de um palmo do joelho, como o vestido de Geyse. Eram muito mais curtas. E nenhuma das moças, por mais bonita, fazia aquilo para provocar. Elas eram modernas, liberadas e gostavam de namorar -claro que só namoravam quem quisessem. Algumas liam Régis Débray; outras, Hermann Hesse; e, ainda outras, “Peanuts”; mas todas eram divertidas, inteligentes e politicamente atuantes.

No dia seguinte às passeatas contra a ditadura na avenida Rio Branco, uma ou duas apareciam na faculdade com as coxas e canelas salpicadas de curativos, resultado das bombas de “efeito moral” que os agentes do Dops soltavam no meio da turba e, ao explodir, despejavam estilhaços que cortavam de verdade. Ao contrário de nossos jeans, grossos como couro e que nos protegiam as pernas, as minissaias expunham as garotas a esses riscos -que elas enfrentavam com graça e coragem.

Várias lutaram à vera contra os militares e pagaram o preço, na forma de prisão, tortura, exílio ou morte de alguém próximo. Mas, sabe-se como, todas completaram o curso. No futuro, muitas se tornaram mestras ou doutoras respeitadas em suas carreiras, ainda que fora da sociologia.

Às vezes reencontro-as em reuniões aqui no Rio. Estamos 40 anos mais velhos, mas, nas minhas fantasias, elas continuam as mesmas meninas de 1967: alegres, responsáveis, cultas – e irresistíveis em suas minissaias.



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